quarta-feira, outubro 20, 2010

Aos nove anos - lembro como se fosse hoje - eu costumava ser daquelas crianças que sorriam para todos, eu costumava correr e desenhar meus parques de giz pelo chão da vizinhança, eu dormia no colo de meu pai enquanto ele discutia política pelo telefone, fazia mil peripécias e tinha o sorriso mais encantador da casa, eu tinha inocência no olhar.
Eu queria poder dizer que passaram-se oito anos e que eu continuo aprontando como quando era criança, que continuo com o mesmo sorriso e que ainda durmo no colo de meu pai, mas não, alguma coisa falhou lá atrás e sinto as dores ainda hoje, eu costumo omitir os fatos quando caio no assunto, mas não esta dando mais pra segurar nem as lágrimas tampouco as feridas que andam se abrindo.
Seria errado dizer que não sou culpada, pois sou a culpa da história toda.
Aos meus nove anos duas pessoas quiseram fazer com que a minha história fosse para uma nova direção, e não sei porque diabos fizeram com que a direção fosse a que me encontro hoje.
Eu lembro de tudo, dos detalhes mais sórdidos; Era sempre escuro, eu  já estava na cama para dormir, e ai então começava todo aquele pesadelo, era o pesadelo real, pesadelo da carne. Bastava que as luzes se apagassem, e qualquer um deles que estivesse por perto vinha e destruía a cada toque uma verdade, destruía sonho por sonho e me deixavam ali desfalecida, ai eu acordava e só lembrava do escuro, dos toques, do jeito sem escrúpulo com que me beijava passando por todo meu corpo, ainda hoje sinto nojo de mim mesma, vem dai meus milhares de banhos diários e as centenas de incisões que tenho pelo corpo.
Um dia tudo aquilo cessou, eu realmente não sei porque, mas agradeço muito porque era constrangedor e me deixava a deriva de um abismo que eu não queria mais conhecer.
Convivo com a imagem do inferno em mim, ainda não sei o que é dormir em paz, e já fazem oito anos, mas eu me lembro como se fosse hoje.
Não existe verdade em meus sorrisos, não tenho mais o conforto do colo de meu pai, prefiro deixar ele limpo, e longe do que eu costumo chamar de pecado. Não mais desenho meus parques de giz pela vizinhança, mas vi todos eles desaparecerem com a chuva.
Lembro também que a dois anos atrás, transpareci meus nove anos de idade com bebedeiras e fugas noturnas, mas eu vomitei toda aquela coragem e agora não enfrento nem mesmo meus olhos no espelho, e a nuvem negra não consegue passar e me deixa molhada por sua chuva ácida diária.
Eu procuro por mãos verdadeiras e sem malícia, eu procuro por amor verdadeiro e cauteloso, mas sou o pecado e não posso sujar mais ninguém com isso.

5 comentários:

  1. Passa lá no meu blog que tem selos pra ti *-*
    beeeijoos

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  2. Se não for fictício (estou com dedos cruzados pra que seja, e me conheço bem pra saber que ficarei pensando no que li até que eu saiba que é fictício), ti desejo muita paz, querida.

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  3. Cruel demais pra ser imaginação né?! Bobagem a minha... Não sei o que lhe dizer pois tudo o que disse pra mim até hoje me fez esquecer.

    Obrigada pelo retorno.
    Té brave!

    :D

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