terça-feira, março 08, 2011

052

Manhã fria e cinza, esperava apenas um café quente e alguma melodia amarga para acompanhar.
Toda aquela rotina de trabalho e estudo havia se tornado um fardo, cujo qual ela não aguentava mais carregar e haviam lágrimas exaustas e secas pelo vento que a cercava aquela manhã.
Seu celular tocou, e por alguns instantes uma vontade incontestável de reviver o passado acendeu em algum lugar antes adormecido.
Vestiu uma calça azul, uma v-neck cinza, calçou suas sapatilhas vermelhas e com uma fita de mesma cor prendeu seu cabelo, um breve sorriso surgiu quando se deparou com a franja sobre os olhos e assoprou para cima, lembrando de noites passadas.
052, esse era o seu destino.
Desceu as escadas do circular, e lá estava ele com seus riscos espalhados pelo corpo, e um cigarro que era segurado pela mão direita.
Seguiram por um beco estreito, ele e seu cigarro e por fim ela, calada e de olhar baixo. Chegaram enfim a casa que tinha como principal personagem um amigo, que ela não via há algum tempo.
Foram até a sala ainda em silêncio e se sentaram no sofá de histórias sórdidas, ela encostou a cabeça em seu ombro e ele a deitou em seu colo, perguntando sobre sua vida hoje pálida. Ele a beijou, beijo menta com uma pitada de nicotina e saudade, seus olhos sorriram.
Ele a carregou no colo até um quarto escuro, e colocaram em prática desejos adormecidos. Por fim restou ela de alma imunda e dor no coração, acendendo um cigarro e recolhendo as roupas do chão enquanto ele de prazeres satisfeitos dormia feito um porco. Vestiu-se e saiu como lobo afugentado, após vasculhar-le os bolsos da calça.
Janelas compridas e amarelas, cortinas azuis e um edredon de um quadriculado cegante. Essa talvez seja a memória que ela mais queira esquecer, ou talvez queimar junto a sua ultima ponta de cigarro.

Funerais