quarta-feira, agosto 24, 2011

Prólogo (O2)

Cinco meses foi o tempo que Sophie precisou para colocar sua vida nos trilhos.
Começou a trabalhar, voltou a estudar, e a tal ânsia por encontrar nos outros corações parecidos com o seu, cessou.
Cinco meses de namoro, e um novo começo. Dessa vez sem medos e desconfianças.
Agora a história parte de um novo começo que começa pelo meio, e o mais importante, não tem fim, nem expectativas frustradas.

terça-feira, março 08, 2011

052

Manhã fria e cinza, esperava apenas um café quente e alguma melodia amarga para acompanhar.
Toda aquela rotina de trabalho e estudo havia se tornado um fardo, cujo qual ela não aguentava mais carregar e haviam lágrimas exaustas e secas pelo vento que a cercava aquela manhã.
Seu celular tocou, e por alguns instantes uma vontade incontestável de reviver o passado acendeu em algum lugar antes adormecido.
Vestiu uma calça azul, uma v-neck cinza, calçou suas sapatilhas vermelhas e com uma fita de mesma cor prendeu seu cabelo, um breve sorriso surgiu quando se deparou com a franja sobre os olhos e assoprou para cima, lembrando de noites passadas.
052, esse era o seu destino.
Desceu as escadas do circular, e lá estava ele com seus riscos espalhados pelo corpo, e um cigarro que era segurado pela mão direita.
Seguiram por um beco estreito, ele e seu cigarro e por fim ela, calada e de olhar baixo. Chegaram enfim a casa que tinha como principal personagem um amigo, que ela não via há algum tempo.
Foram até a sala ainda em silêncio e se sentaram no sofá de histórias sórdidas, ela encostou a cabeça em seu ombro e ele a deitou em seu colo, perguntando sobre sua vida hoje pálida. Ele a beijou, beijo menta com uma pitada de nicotina e saudade, seus olhos sorriram.
Ele a carregou no colo até um quarto escuro, e colocaram em prática desejos adormecidos. Por fim restou ela de alma imunda e dor no coração, acendendo um cigarro e recolhendo as roupas do chão enquanto ele de prazeres satisfeitos dormia feito um porco. Vestiu-se e saiu como lobo afugentado, após vasculhar-le os bolsos da calça.
Janelas compridas e amarelas, cortinas azuis e um edredon de um quadriculado cegante. Essa talvez seja a memória que ela mais queira esquecer, ou talvez queimar junto a sua ultima ponta de cigarro.

domingo, fevereiro 13, 2011

Natasha.

Lembro ainda de teu olhar pálido, como prostituta de vitrine.
Chegou como quem não quer nada e sem eu me dar conta já tomava conta de cada artéria, cada espaço que antes vinha procurando por ocupação. Seu cheiro ainda permanece comigo, é doença, é vicio, é prazer necessário.
Me tirou para dançar, me preenchendo cada centímetro do peito. As luzes me cegavam, as vozes não passavam de zumbidos e com alguma certeza nada fazia tanto sentido, e qualquer esquina não era mais morada, e qualquer corpo já se tornara indigente, daqueles para se abraçar com os joelhos.
Natasha com certeza saberia me explicar esse brilho oceânico no olhar, e me daria colo.
Uma dança sem musica,  brilhos, olhares e mãos.
Puta barata, daquelas que não te deixam na mão e que você encontra em qualquer esquina, te envolve na primeira dose, te faz esquecer do mundo, rir sem pudor e quem acaba de sem maquiagem e mascaras é você.
Passaram-se dois dias e com eles ela. Mas ainda me resta ressaca moral, olhar baixo e um vazio que grita por ela.
Talvez eu saia a sua procura, talvez.

domingo, fevereiro 06, 2011

Cota excedida das aspirinas.

O problema interno se tornou externo, e era quarta-feira.
Acordou tarde como de costume, dessa vez sem o ritual passado de se olhar e sorrir para si mesma, não havia sorriso e nem um motivo lógico para tal apatia.
Sentiu que os olhos haviam se tornado pescadores, levantou e foi se arrastando até a cozinha, esquecera de acender as luzes e acabou derrubando até a si mesma. Pegou a xícara que estava dentro da pia e levou a boca, ainda com o resto de café da noite passada.
Deitou-se em posição fetal em uma rede armada na varanda, e ficou ali olhando o nada sendo cegada pelo sol, mas ainda sim havia um frio incomum que gelava a espinha e fazia surgir em seu rosto vestígios de lágrimas de noites passadas. É a antiga história do "se fazer forte", mas essa história fica para outra oportunidade.
Sentiu um gosto amargo de passado entalado na goela, mescla de Vila Rica e saudade. Não podia, havia prometido não mais colocar em sua boca nem sequer um cigarro, nem dos verdes, aqueles que ela adorava.
- Malditas promessas, malditos preços a serem pagos. - Disse e assim se levantou batendo com a perna na porta. - Porra.
Esqueci de avisar que essa tal tem problemas com a educação, ou com a falta da mesma, que seja.
Era quarta-feira, não havia sorrisos mas a cota de aspirina já havia excedido as 18hrs.
Creio que a ânsia dessa tal por encontrar nos outros corações parecidos com o seu fosse o real problema interno, mas isso não importa. Voltemos a narrativa.
Ligou o rádio, ultima memória "Jarras, você toma jarras. Jarras de café." Deu um soco meteórico na parede, se perguntando aos berros.
- Mas que porra de dia é esse? Até tu 2ois?.
Foi ao armário e sacou a caixa de primeiros socorros, se sentou a mesa e passou uma faixa em torno dos dedos para estancar a merda que a mesma acabara de cometer, com uma fúria inenarrável estava prestes a perder quaisquer que fossem as circulações.
Contou até dez na tentativa de encontrar paciência ou qualquer coisa que a acalmasse, e acabou encontrando mais aspirinas no espelho do banheiro, e junto haviam também suas fiéis navalhas.
Acordou no sábado, com a antiga história do "se fazer forte" que ficara para a próxima oportunidade.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Ouço o cachorro da casa ao lado latir, já deve passar das três mas não tenho sono, nem olhos pescadores.
Pego café, sento no sofá, junto as pernas ao corpo e com os braços as seguro, é meio que um ritual, não vem de outrora, mas é.
Começo a pensar, calcular tempo e idealizar momentos crendo que os mesmos haverão de chegar, tenho me tornardo um tanto quanto otimista, e essa é uma das poucas certezas que tenho.
Acabo por lembrar de algum sabado passado, onde os risos ecoavam após um numero de telefone no guardanapo, algumas dosagens de alcool e um beijo-menta dado em alguma garota de sorriso completo, entre um poste e outro de uma das ruas mais movimentadas da cidade.
Bloqueio de pensamentos.
Parto para o ultimo domingo, ontem talvez.
Calcei os chinelos, prendi o cabelo com alguns grampos não conseguindo impedir que a franja caísse sobre meus olhos, e fiquei de casa ao meu destino final soprando para cima e sorrindo.
Sentei, haviam mais algumas pessoas no mesmo recinto nenhuma me fazendo companhia, apenas estavam lá, pedi uma cerveja, e após alguns minutos já haviam mais de dez garrafas tomando conta de todo espaço da mesa, levantei em direção a jukebox, Joplin.
Já passava das onze e o caminho até em casa seria um tanto quanto perigoso, morar em periferia tem lá seus pontos negativos. Pedi a saideira e fui bebendo, fazendo da garrafa companhia propicia ao horário. Sempre as quebro por fim - as garrafas - pelo simples prazer de pisar em cacos.
Chego em casa, deixo a água fria do chuveiro bater na nuca, não me lembro de ter sentido melhor sensação, saio ainda enrolada na toalha me prostro ao chão e converso com Sophia, na verdade não lembro dos nomes mas sim das sensações que me proporcionaram, e do hálito de bebida barata.
Ouço o cachorro da casa ao lado latir, já deve passar das três...

Funerais