domingo, fevereiro 13, 2011

Natasha.

Lembro ainda de teu olhar pálido, como prostituta de vitrine.
Chegou como quem não quer nada e sem eu me dar conta já tomava conta de cada artéria, cada espaço que antes vinha procurando por ocupação. Seu cheiro ainda permanece comigo, é doença, é vicio, é prazer necessário.
Me tirou para dançar, me preenchendo cada centímetro do peito. As luzes me cegavam, as vozes não passavam de zumbidos e com alguma certeza nada fazia tanto sentido, e qualquer esquina não era mais morada, e qualquer corpo já se tornara indigente, daqueles para se abraçar com os joelhos.
Natasha com certeza saberia me explicar esse brilho oceânico no olhar, e me daria colo.
Uma dança sem musica,  brilhos, olhares e mãos.
Puta barata, daquelas que não te deixam na mão e que você encontra em qualquer esquina, te envolve na primeira dose, te faz esquecer do mundo, rir sem pudor e quem acaba de sem maquiagem e mascaras é você.
Passaram-se dois dias e com eles ela. Mas ainda me resta ressaca moral, olhar baixo e um vazio que grita por ela.
Talvez eu saia a sua procura, talvez.

domingo, fevereiro 06, 2011

Cota excedida das aspirinas.

O problema interno se tornou externo, e era quarta-feira.
Acordou tarde como de costume, dessa vez sem o ritual passado de se olhar e sorrir para si mesma, não havia sorriso e nem um motivo lógico para tal apatia.
Sentiu que os olhos haviam se tornado pescadores, levantou e foi se arrastando até a cozinha, esquecera de acender as luzes e acabou derrubando até a si mesma. Pegou a xícara que estava dentro da pia e levou a boca, ainda com o resto de café da noite passada.
Deitou-se em posição fetal em uma rede armada na varanda, e ficou ali olhando o nada sendo cegada pelo sol, mas ainda sim havia um frio incomum que gelava a espinha e fazia surgir em seu rosto vestígios de lágrimas de noites passadas. É a antiga história do "se fazer forte", mas essa história fica para outra oportunidade.
Sentiu um gosto amargo de passado entalado na goela, mescla de Vila Rica e saudade. Não podia, havia prometido não mais colocar em sua boca nem sequer um cigarro, nem dos verdes, aqueles que ela adorava.
- Malditas promessas, malditos preços a serem pagos. - Disse e assim se levantou batendo com a perna na porta. - Porra.
Esqueci de avisar que essa tal tem problemas com a educação, ou com a falta da mesma, que seja.
Era quarta-feira, não havia sorrisos mas a cota de aspirina já havia excedido as 18hrs.
Creio que a ânsia dessa tal por encontrar nos outros corações parecidos com o seu fosse o real problema interno, mas isso não importa. Voltemos a narrativa.
Ligou o rádio, ultima memória "Jarras, você toma jarras. Jarras de café." Deu um soco meteórico na parede, se perguntando aos berros.
- Mas que porra de dia é esse? Até tu 2ois?.
Foi ao armário e sacou a caixa de primeiros socorros, se sentou a mesa e passou uma faixa em torno dos dedos para estancar a merda que a mesma acabara de cometer, com uma fúria inenarrável estava prestes a perder quaisquer que fossem as circulações.
Contou até dez na tentativa de encontrar paciência ou qualquer coisa que a acalmasse, e acabou encontrando mais aspirinas no espelho do banheiro, e junto haviam também suas fiéis navalhas.
Acordou no sábado, com a antiga história do "se fazer forte" que ficara para a próxima oportunidade.

Funerais